sexta-feira, 2 de julho de 2010

A CONSTRUÇÃO DA PEDAGOGIA DA DIFERENÇA



A construção de uma educação de qualidade, com equidade e que prime pela eficiência, tem que ser um projeto inadiável e assumido por toda a nação brasileira. A consolidação de políticas educacionais que contemplem esta proposta aponta para a necessidade e a urgência da construção de novos paradigmas pelo Sistea Educacional. Dentre estes, a construção de uma cultura escolar cotidiana de respeito à diversidade e peculiaridades da população brasileira é um imperativo. As tentativas atuais de fortalecimento de práticas pedagógicas mais inclusivas e democráticas estarão fragmentadas, incompletas e fadadas ao fracasso se não se incluir, nesse bojo, o trato pedagógico da diversidade étnico-racial, como nos aponta Nilma Lino Gomes(2001).
Portanto, fortalecer a escola pública com um bem social, ampliando suas possibilidades democráticas, implica empreender ações de caráter universal e incidir sobre todo o âmbito da educação formal e seus sujeitos. Mas a inserção da dimensão singular, incluindo aí a perspectiva étnico-racial, contemplará os brasileiros descendentes de africanos que representam metade (ou mais) da população brasileira.
Importantes lutas têm sido travadas por vários setores da sociedade brasileira, para a melhoria do Sistema de Ensino. Especialmente, os movimentos sociais negros reivindicam o fortalecimento da educação como instrumento de promoção social e de cidadania para a população negra.
Mesmo que tais organizações da sociedade civil tenham patrocinado um avanço em alguns pontos sobre a questão ainda tem-se muito a fazer, principalmente no cotidiano do espaço escolar. É urgente diminuir a distância que ainda existe entre as postulações dos documentos pedagógicos e legais sobre o tema e o fazer pedagógico diário.
Confirmada essa realidade, pode-se identificar algumas fases por que as escolas passam para incluir a discussão racial em seu bojo pedagógico, mesmo que o assunto já tenha sido até objeto de legislação federal específica ( Lei 10.639/2003).
(ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Pedagogia da Diferença. Belo Horizonte: Nandyala, 2009.)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Visões da África

(Tela de Debret)


A visão da África subsaariana na historiografia colonial deixou imagens estereotipadas que resistem até hoje no imaginario coletivo das populações contemporâneas, imagens estas popularizadas nos clichês dos filmes de Tarzan.

Até hoje, na maioria das imagens atuais sobre a África, raramente são mostrados os vestígios de um palácio real, de um império, as imagens dos reis e ainda menos as de uma cidade moderna africana construída pelo próprio ex-colonizador. As imagens geralmente exibidas mostram uma África dividida e reduzida, enfocando sempre os aspectos negativos, como atraso, selva, fome, calamidades naturais, doenças endêmicas, aids, guerras, miséria e pobreza.

No entanto, não faltam imagens que mostrem uma África autêntica em sua múltipla realidade, imagens que possam até criar um sentimento de solidariedade com os países africanos. Essas imagens de uma África autêntica pululam nos testemunhos dos viajantes árabes que se aventuravam nos países da África ocidental entre os séculos IX e XI e dos navegadores portugueses que, no alvorecer da era das navegações no século XV, começaram a se aventurar mais ao sul do continente de forma sistemática.

Todos, árabes e europeus, desenvolveram em seus relatos a verdadeira África que viram em testemunhos oculares. Muitos falaram com admiração das formas políticas africanas altamente e socialmente aperfeiçoadas, entre as quais se alternavam reinos, impérios, cidades-estados e outras formas políticas baseadas no parentesco, como chefia, clãs e linhagens.

Até a véspera da era colonial moderna, era comum encontrar, com facilidade, as imagens positivas sobre a África. A natureza e as paisagens eram descritas com simpatia e lirismo; as mulheres eram consideradas bonitas e respondiam aos cânones da beleza da época, com boa em cereja e curva excitante.


(MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. São Paulo: Global, 2009)